quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Precisamos rever o caminho que os atuários brasileiros devem seguir a partir de 2011? – Parte II.

Eu havia me comprometido a publicar na semana passada a segunda parte do artigo que escrevi na semana que se iniciou em 10 de janeiro de 2011. Entretanto, o episódio da região serrana que causou tantos estragos à vida humana e o aniversário de 457 anos da cidade de São Paulo, desviaram minha atenção.
Mas como diz o ditado “promessa é dívida” retomo o tema que havia iniciado. Ressaltando mais uma vez que o caráter desta página é dirigido aos jovens estudantes e profissionais que estão em início de carreira.
Em muitas ocasiões deparo-me com o questionamento de um jovem ou outro, quanto ao fato de uma determinada vaga ser anunciada onde o atuário possui todas as credenciais para preenchê-la; porém, a empresa que anunciou a vaga não menciona claramente que o profissional deve ter a formação no curso de Ciências Atuariais. O fato de não estar tacitamente declarado que o profissional deve ser atuário não deve e não pode servir de desestímulo para candidatar-se à vaga.
Para uma empresa que busca um profissional qualificado para preencher a vaga disponível em seus quadros, não importa que ele seja um matemático, estatístico, engenheiro ou atuário. O que mais importa para a empresa é que o profissional tenha qualificação para o cargo, se é jovem e se possui potencial capacitação para exercer a função. As empresas de um modo geral não estão interessadas em títulos, mas em resolver sua carência imediata.
Na maioria das vezes não fazem por mal, apenas por desconhecer nossa profissão. Em parte tal fato ocorre por nossa culpa ou pela forma com a qual nos posicionamos perante a sociedade. O perfil do atuário de vinte anos para cá mudou muito, entretanto, uma característica, em particular, salvo raras exceções, permanece intacta. Refiro-me à timidez inata dos atuários, em sua grande maioria. Tal postura precisa ser revista. Se você duvida desta afirmação procure observar o quão é ínfima a participação dos atuários em uma apresentação, conferência, seminário ou evento de mercado. Quanto mais técnico é o tema, menos ele se expõe. Essa postura é no mínimo intrigante. Cabe, em especial aos jovens, mudar este paradigma.
Os jovens devem ter em mente que cabe a ele próprio a tarefa de complementar sua formação para ampliar às chances de obter uma colocação no mercado. Para isso ser possível deve contar com todos os meios ao seu alcance para superar este desafio; e neste sentido a timidez é uma barreira que deve ser superada.
O Instituto Brasileiro de Atuária tem um importante papel no sentido de contribuir para orientar os jovens profissionais nesta tarefa. Entretanto, é importante destacar que em face às dificuldades de nosso Instituto e apesar dos esforços dos gestores e diretores daquela instituição, eles possuem limitações.
A principal iniciativa é de caráter individual de cada profissional, pois em última instância cada indivíduo é o “CFO de sua carreira”. E quanto mais cedo tomar consciência deste fato melhor estará preparado para competir no atual ambiente de negócios.
            Entendo que, diferente de alguns colegas de profissão, existe um vasto campo inexplorado onde podemos estar presentes e hoje não estamos apesar de possuirmos todas as credenciais para tal.
            Mas por quê precisamos rever nosso caminho, como afirmo no título deste artigo? Vamos às razões pelas quais penso que devemos nos mobilizar.
            Quando se fala na participação do atuário na sociedade, a primeira coisa que vem à mente é: fundos de pensão, seguradoras, empresas de administração de saúde, empresas de consultoria e órgãos de supervisão, como a PREVIC e a SUSEP. Mais recentemente, as empresas de auditoria e as resseguradoras. Considerando esse universo, tentarei resumir a situação atual de cada um desses mercados.
            Os fundos de pensão ou as patrocinadoras de programas de aposentadoria deveriam, em tese, ter cada uma, seus atuários próprios. Senão na condição de empregado da entidade, na condição de empregado da patrocinadora. Tal fato não se verifica na realidade. Exceção dos grandes fundos de pensão, que possuem em seus quadros atuários próprios, a grande maioria das entidades terceiriza seus trabalhos com empresas de consultoria atuarial. Diante disso, entendo que existem oportunidades de colocação nas patrocinadoras de programas de aposentadoria, não apenas atuando nos cálculos das reservas, mas especialmente na modelagem de benefícios e nas áreas de finanças e de recursos humanos das patrocinadoras dessas entidades. Para isso, basta complementar sua formação em finanças e recursos humanos.
            Com as seguradoras ocorre o mesmo. As grandes seguradoras possuem em seus quadros atuários próprios, enquanto as médias e pequenas terceirizam seus serviços com algumas grandes empresas de consultoria ou com pequenos escritórios de consultoria atuarial.
            Já as empresas que administram planos de saúde, na sua grande maioria, seguem os modelos anteriores citados. Todavia, considerando que existem inúmeros planos de saúde no mercado, exceção dos grandes players, a maioria opta por contratar, por força da legislação, pequenos escritórios de assessoria. Fazem isso por obrigação, pois a legislação diz que é preciso ter a assinatura de um profissional atuário nas notas técnicas. Caso contrário, não o fariam.  
            Quando nos referimos às empresas de consultoria, exceção das grandes que atuam no segmento de fundos de pensão, seguros e planos de saúde, poucas tem condição de oferecer oportunidades, pois são empresas familiares ou de um profissional experiente que optou por atuar como consultor para prover algumas demandas de mercado.
 As grandes empresas de consultoria costumam valorizar seu trabalho.  É natural fazer isso, pois possuem custos fixos elevados. Investem fortemente em tecnologia, sistemas, treinamento, benefícios. Não é apenas isso que faz os honorários ser mais elevado, pois é levado em conta a complexidade dos projetos, a qualidade e outros elementos de formação de preço.
Contudo é muito comum os pequenos escritórios cobrarem valores cada vez mais insignificantes, pois não levam em conta o alto risco da atividade, a qualidade e o princípio de valorização profissional que deveriam estar embutidos no preço dos serviços que oferecem ao mercado. Contra isso nada se pode fazer, infelizmente. A defesa dos responsáveis por essa prática que coloca nossa profissão no descrédito e puxa a média dos honorários para valores ínfimos está encoberta sob a alegação de que seus custos são significativamente menores do que os grandes escritórios. Eu questiono tal afirmação, pois não é fato. É comum me deparar com escopos do trabalho, cujo honorário oferecido não é compatível com o esforço que o trabalho exige em número de horas, ou com a qualidade que é exigida. Sinceramente, eu não encontro justificativas razoáveis e de bom senso para dar sentido a tal prática.
Gostaria de ressaltar um fato curioso que muitas vezes depõe contra nossa profissão, a começar pela postura de nosso interlocutor, especialmente quando do outro lado da mesa está um atuário na condição de contratar um serviço. É comum deparar, logo após a exposição do problema para o qual precisa de assessoria, a seguinte afirmação lacônica “o preço tem que ser baixo”. Em se tratando de um atuário que faz tal afirmação, passa um milhão de coisas em minha mente, mas por questões profissionais, são impublicáveis.
Nenhuma empresa que tem um atuário dentro de seus quadros vai delegar para fora um serviço que ele poderia fazer. Das duas, uma: ou ele não tem tempo ou tem dificuldades para fazer o trabalho. Do contrário, por quê a afirmação “o preço tem que ser baixo”, seguida da exposição do escopo?
Se os atuários que atuam dentro dessas empresas que contratam serviços são os primeiros a desvalorizá-los, quem então os valorizará? Isso precisa mudar, mas não se muda isso por imposição, criando pisos como alguns colegas de profissão defendem, mas por um processo de conscientização a partir de nós, atuários.
Os honorários de consultoria, exceção das grandes empresas de consultoria atuarial, entre a quais destaco a Mercer, Towers, Tillinghast, EMB, Millimann, Ernst & Young e Deloitte, dentre outras, estão se transformando em commodities de baixo custo, o que depõe contra nossa profissão.
É preciso uma mudança de postura que só ocorrerá por meio de uma forte conscientização de onde estamos e para onde queremos estar nos próximos anos; ou permanecemos acomodados tendo que arcar com o agravamento da situação. Não subestimem tal afirmação, pois a tendência é que ela se torne mais dramática do que já é. Como não acredito em soluções rápidas, sem dúvida, o processo de conscientização é o melhor caminho.
Incentivo aos atuários e especialmente aos mais jovens trabalharem essa questão melhor do que a minha geração está fazendo, sob pena de ter que conviver com situações mais complexas. Ao mesmo tempo, incentivo-os a procurar em outras indústrias e segmentação de serviços, oportunidades onde podem ser úteis.
Um dos focos que devem ter em mente são as instituições financeiras, onde existem inúmeras oportunidades. Preparem-se para este mercado complementando sua formação na área de finanças, estatística, contabilidade e, especialmente em modelagem, adquirindo proficiência em ferramentas tais como: SAS, SPSS, SQL, Credit Scoring, Behavior Scoring, entre outras, e dediquem-se a explorar novas indústrias.
Finalizando, gostaria de ressaltar que foi este artigo completa um artigo anterior e que os links dos artigos abaixo podem ser úteis para quem tem interesse no assunto.  
http://marcoponteslgpconsulting.blogspot.com/2010/10/logistica-no-mercado-segurador.html

          Aproveito a ocasião para compartilhar a matéria publicada na Revista Exame de Abril, cujo link consta a seguir:
http://exame.abril.com.br/carreira/galerias/profissoes-em-alta/profissionais-de-atuaria-recebem-ate-r-50-mil
          Boa semana para todos vocês e cordiais saudações.
Marco Pontes é diretor da LG&P Consulting, membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP).
Twitter: @MarcodePontes
Skype: Marco.Antonio.Pontes

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Revista Opinião publica artigos tendo como tema as Resoluções do CNSP que trata do Resseguro.

          Convido a leitura dos artigos que foram publicados na Revista Opinião da Editora Roncarati que trás como tema a opinião de especialistas do mercado sobre as Resoluções CNSP 224 e 225 editadas em dezembro de 2010. A revista consta do link: http://www.editoraroncarati.com.br/opiniao_seg/04-a/opiniao04-extra.html

          Atenciosamente,

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Precisamos rever o caminho que os atuários brasileiros devem seguir a partir de 2011?

Uma pesquisa apontou que o atuário junto com matemáticos e estatísticos estão entre as profissões mais requisitadas e valorizadas no Estados Unidos. Convido-os a ler a matéria que consta no link que segue: http://www.careercast.com/jobs-rated/2011-ranking-200-jobs-best-worst que um bom amigo atuário compartilhou comigo no fim de semana.   
Definitivamente eu me incluo no roll daqueles que acreditam que devemos repensar nossa profissão sob diversas perspectivas com a finalidade de superar os desafios que teremos nos próximos anos.
O Brasil no contexto mundial foi um dos poucos países que saiu bem da crise de 2008-2009. As perspectivas de crescimento do PIB de forma contínua para os próximos anos não é algo longe de acontecer, salvo se acontecer uma catástrofe. O ritmo de crescimento da economia brasileira para os próximos anos propiciará um cenário rico de oportunidades para várias profissões, inclusive para nós atuários, mas não se permanecermos à margem do processo como penso que estamos fazendo e subestimando a capacidade que detemos de ir mais além.
Talvez muito de vocês discordem do que penso. Também não me julgo o dono da verdade por pensar desta forma. A provocação que faço não é dirigida aos atuários seniores que já estão estabelecidos e alcançaram sucesso na trajetória profissional. Seja trabalhando para uma grande empresa de consultoria ou aqueles que acumularam experiências suficientes e se encontram  relativa tranqüilidade por meio de seu escritório de consultoria, mas especialmente aos mais jovens que ainda não saíram da Universidade ou aqueles que estão entrando no mercado de trabalho. É para vocês que escrevo.
Tenho mais de 20 de experiência na profissão, mas especialmente nos últimos 16 anos tive diversas experiências profissionais que contribuíram para formar a crença que devemos rever nosso papel para a sociedade sob pena de ver a profissão cada vez mais desvalorizada.
 Neste período atuei como consultor independente por dois anos até aceitar o convite para juntar-me a uma das quatro big four para desenvolver a prática atuarial. Depois de cinco anos aceitei o convite para desenvolver o mesmo projeto em outra big four desta vez por nove anos e no último ano tive a oportunidade de atuar novamente por meio do escritório de consultoria que fundei no fim de 2009.
Acredito que isso confere um pouco de credibilidade para afirmar que é preciso que o papel do atuário seja repensado para aqueles que se encontram na Universidade ou aqueles que estão iniciando na profissão. Afinal, por que penso assim? Antes de expor minhas razões gostaria de compartilhar com vocês outro link, conforme segue: http://www.careercast.com/careers/jobsearch/results?clientid=careercast;searchType=quick;kAndEntire=Actuary;submit=Search que tive acesso para vossa reflexão.
 Prometo na semana que vem retomar o tema, expondo em detalhes a razão de ter compartilhado meus pensamentos sobre este tema. Por ora não deixem de ler os links que meu amigo atuário achou interessante compartilhar. Até semana que vem. Boa semana para todos vocês. 

Marco Pontes é diretor da LG&P Consulting, membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP).
Twitter: @MarcodePontes
Skype: Marco.Antonio.Pontes